Para os mais desinformados pode ser surpreendente, mas a verdade é que o primeiro filme do cinema português – Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança – foi realizado por um comerciante do Porto: Aurélio Paz dos Reis (1862-1931).
Paz dos Reis era um comerciante floricultor. No entanto, além de liderar os destinos da “Flora Portuense” – estabelecimento situado na Praça da Liberdade, que nos dias de hoje dá lugar à Confeitaria Ateneia -, este distinto portuense tinha, também, uma inquestionável paixão pela fotografia e pelo cinema.
Foi este sentimento que o levou a viajar até França, no verão de 1896, para tentar comprar um cinematógrafo aos irmãos Lumière. A recusa que levou dos pioneiros nas artes cinéfilas não o desencorajou e, junto de outros irmãos – os Werner -, adquiriu um aparelho cronofotográfico, que tinha um funcionamento diferente, mas que servia perfeitamente para filmar. Estavam, então, reunidas todas as condições para ser feita história, assim que Paz dos Reis regressasse ao Porto com o tão desejado equipamento.
Tudo acontece pouco depois, numa manhã de setembro, quando o comerciante monta o inédito aparato nas ruas da Invicta para, em frente à Fábrica Confiança – “acreditado estabelecimento comercial de roupa branca”, como se designava na época -, filmar, durante 55 segundos, sem som, e a preto e branco, a saída dos trabalhadores da Camisaria no período de almoço. Assim se fez o primeiro filme do cinema português.