Já alguma vez viu um crocodilo? E se lhe dissermos que há uma loja, na cidade do Porto, com um crocodilo enorme embalsamado, suspenso no teto, para surpresa de todos aqueles que entram e saem?
Já deve ter percebido que estamos a falar da Casa Crocodilo: uma loja de solas e cabedais com mais de 70 anos de história.
O negócio da família Coutinho
Foi na Rua Chã que, em 1947, Fernando de Almeida Coutinho abriu pela primeira vez as portas desde negócio, que ainda hoje se mantém vivo. “O meu pai era sapateiro. Começou a trabalhar aos 16 anos.” conta Guilherme Coutinho, atual proprietário da loja.
Um ano depois, em 1948, a loja mudou a sua localização para a Rua do Cimo de Vila onde, ainda hoje, Guilherme Coutinho, de 73 anos, gere o espaço comercial. “Estudei no conservatório, mas estive sempre ao lado do meu pai. Quis dar continuidade ao negócio” explica Guilherme.
Os materiais com que trabalha e os serviços exímios em solas e cabedais fizeram da Casa Crocodilo um espaço de referência no Porto, que conquistou clientes em todo o país. Mas tão, ou mais, marcante do que a qualidade comprovada desta casa, é o Crocodilo de 5 metros que está exposto na loja e que, se falasse, teria muitas histórias para contar.
Do Brasil até Portugal: a história do mítico crocodilo
Foi ainda, no ano de fundação da loja, que Fernando de Almeida Coutinho recebeu uma proposta inesperada de uma cliente. “Foi uma senhora que veio do Brasil para morar na Avenida da Boavista”, confidencia André, filho de Guilherme Coutinho. “Passou pela loja e perguntou ao meu avô se ele queria um crocodilo. Ele ficou muito surpreendido”, acrescentou.
Apesar de parecer inusitado, Fernando aceitou comprar o crocodilo. “O animal estava em casa da senhora e assustava os netos dela. Foi por isso que o resolveu vender por 30 escudos”, conta Guilherme.
Desde o primeiro momento em que foi colocado na loja, Fernando de Almeida Coutinho percebeu o impacto que o animal tinha e o interesse que gerava junto dos miúdos e graúdos – que não resistiam a entrar na loja para ver a figura mais de perto e que, ainda hoje, se organizam e vêm propositadamente para o ver. O impacto do crocodilo foi tal, que decidiram dar o nome à loja e tornar-se numa espécie de mascote do negócio.
A mascote está suspensa no teto da Casa Crocodilo desde então, tendo apenas “saído à rua” em duas ocasiões especiais e muito particulares. “O crocodilo já saiu daqui quando o Porto foi campeão. Levamo-lo numa carrinha e fez um grande sucesso”, conta-nos Guilherme, que acrescenta ainda que o réptil “saiu outra vez numa queima das fitas”.
Uma loja com selo Porto Tradição
Hoje, Guilherme Coutinho mantém a loja do seu pai com a mesma qualidade e profissionalismo de sempre e não esconde a gratidão que sente por ver o seu negócio de família ser incluído no projeto Porto Tradição – uma iniciativa que visa valorizar, proteger e salvaguardar os estabelecimentos de comércio tradicional local. “A Câmara do Porto tem sido fantástica. O Dr. Rui Moreira tem tido muita consideração pela Casa Crocodilo”, afirma.
A verdade é que uma loja com uma história tão importante para a nossa cidade, não merece, nem pode, ser esquecida por todos nós.
O passado da Casa Crocodilo tem a marca inapagável de Fernando de Almeida Coutinho e, aos dias de hoje, é Guilherme quem continua a honrar o trabalho do seu pai.
A história da Casa Crocodilo não fica por aqui e continua a ser escrita, todos os dias, no coração da cidade invicta.
André, filho de Guilherme, começou agora a sua caminhada no negócio de família e a ideia de prolongar a Casa Crocodilo por três gerações de “Coutinhos” deixa Guilherme com um notável sentimento de orgulho e de missão cumprida: “O futuro é dele!”.