“São sete da tarde. Na Confeitaria do Bolhão, a sala está cheia, inundada de um bulício compassado de vozes, rebimbes de louça e fervedores em ebulição. Sentadas sobre os braços dos cadeirões de morango estão as beldades do Porto.”
Este poderia bem ser um retrato atual de um dia normal na confeitaria mais antiga do Porto. A verdade é que foi mais ou menos assim que Agustina Bessa-Luís a viu e descreveu no seu livro “O Princípio da Incerteza – A Alma dos Ricos”.
Agustina era cliente habitual da Confeitaria do Bolhão. Dizia que ali gostava de ir “comer torradas quentes que pareciam cavacas de Resende”. Mas não era a única ilustre freguesa desta confeitaria centenária. Desde que abriu portas na Rua Formosa, em 1896, foi local de eleição da gente abastada do Porto, que ali tomava os pequenos-almoços antes das compras no Mercado do Bolhão, bem de frente para a confeitaria.
Hoje é José Rodrigues, um ex-emigrante português na Venezuela, que dá continuidade à vida deste espaço único da cidade. Para manter vivo o seu legado, José restaurou o seu interior e recuperou, do antigo livro de receitas da confeitaria, algumas das delícias que deram fama à casa, como o bispo, o pão de deus, o pão-de-ló, ou o bolo-rei (vendido durante todo o ano). Ao mesmo tempo, introduziu novidades, como as tigelinhas do Bolhão, feitas à base de ovos e amêndoa, e que já constam dos roteiros de muitos turistas que visitam a cidade.
Aquele que outrora foi local “onde o Porto toma chá”, é hoje uma confeitaria completa, uma padaria com mais de 50 variedades de pão, um restaurante de cozinha típica portuguesa e, por vezes, palco de música ao vivo, desde o fado ao rock.
É caso para tentar imaginar o que diria Agustina Bessa-Luís, agora, sobre a sua Confeitaria do Bolhão.