“Esta é que é a loja das sementes, não é?”. A pergunta é de um cliente que entra, pela primeira vez, na icónica loja de rua do Porto, A Sementeira. Na verdade, que se trata de uma loja de sementes, o cliente terá percebido, até por causa dos produtos que o envolvem, no interior. A questão reside mesmo na dúvida se aquela é, de facto, “a loja” das sementes.
“É um cliente que veio, de propósito, de Coimbra”, confidencia Pedro Dias, responsável d’A Sementeira, poucos momentos depois de o ter atendido. “Temos clientes que ainda utilizam o movimento pendular do comboio para nos visitarem”, completa.
Não é de estranhar. São 87 anos de portas abertas para a rua a espalhar saber e sabor em tantos produtos que nascem do solo. Falamos, claro está, de plantas, flores, vegetais, bens agrícolas, hortícolas e outros que tais. Não é de estranhar, também por isso, que A Sementeira tenha sido uma das lojas reconhecidas pela Câmara do Porto para integrar o programa “Porto de Tradição”, que protege estabelecimentos e entidades históricas na cidade.
Do Porto a Paris
“A nossa ‘máquina’, atualmente, está montada em Arcozelo, mas quisemos ficar sempre com esta loja aqui porque foi onde nós nascemos. É a nossa identidade”, explica Pedro Dias. De facto, a fachada imaculada do número 178 da Rua Mouzinho da Silveira expressa, num simples vislumbre de olhos, esta identidade tão particular – uma boa porção dela suportada na imagem gráfica que a loja tem desde os seus longínquos inícios.
“Sim, é verdade, temos um logo que muitos gostariam de ter e que, por incrível que pareça, continua atual”, confessa Pedro Dias. Na verdade, existe uma história curiosa por detrás da silhueta feminina que se passeia pelo campo na imagem de marca d’A Sementeira.
Em 1940, durante a primeira variação do logo (ainda presente no balcão de atendimento da loja), o Museu do Louvre (sim, o de Paris) exigiu, à Sementeira, o pagamento de um royalty para que a marca pudesse continuar a utilizar a imagem, que considerava muito parecida com aquela criada pelo artista Oscar Roty, na obra La Semeuse, replicada em muitas moedas francesas antigas, como é o caso de uma que, orgulhosamente, Pedro Dias preserva e exibe quando conta esta história.
O saber que se passa até nas redes sociais
A atualidade que a imagem d’A Sementeira possui é, também, transversal à postura que a marca adota, nos dias de hoje: “No nosso Facebook, por exemplo, costumamos dar conselhos às pessoas – como semear, como plantar – e, numa altura destas, de constante confinamento, em que, muitas vezes, as pessoas só podem ir à varanda ou ao jardim, nós mostramos como se pode ocupar o tempo, a custos reduzidos”, sugere Pedro Dias, também ele neto do fundador d’A Sementeira. Assim se faz florescer uma marca.